Nick, o cantor que nos faz acreditar no impossível

Por Rute Ferreira 3 min de leitura
Nick, o cantor que nos faz acreditar no impossível

Passavam 2 minutos das 20h30, a hora marcada para o início de um tão esperado concerto. Nick Cave cumprimentou o público, que não o esperava já, mas estava ansioso por ouvir todas as canções, cumprindo momentos de muita intensidade e emoção.

Não se pode deixar de assistir a um concerto de Nick Cave and the Bad Seeds, sem ter os sentimentos à flor da pele. Sempre foi assim e, desde 2015 (ano da morte de um dos seus filhos, na altura com 15 anos, que caiu duma ravina) que mais do que nunca, não nos conseguimos desligar das tragédias que assolaram Nick na última década e, de toda a entrega que coloca nos seus espectáculos.

Perdemo-nos na profundidade da sua forma de estar em palco, quase animalesca, quase que como querendo deitar “cá para fora” todos os “monstros” que se podem guardar, vivendo connosco, até os conseguirmos expulsar.

Um concerto de Nick Cave é mais do que cantar canções para um público, é mais do que tocar instrumentos, contam-se histórias, vivem-se momentos que se tornam uma comunhão. É entrar em catarse e sentir o mesmo que Nick.

Nick Cave and the Bad Seeds vieram apresentar o último álbum Wild God , mas o concerto foi mais do que apresentar um álbum. Foi voltar ao passado para sentir o presente, e com a canção Joy aflorarmos na esperança que o mundo pode ser melhor, que há esperança. Que se pode renascer da dor, mesmo com a partida de quem amamos, como em I need you. Nós precisamos tanto do Nick como ele de nós, para afastarmos os nossos fantasmas, para termos força para continuar. Num sentido profundo de um sentimento de tristeza, também podemos ganhar vontade para seguirmos em frente e sabermos que o nosso futuro são as Children, como nos proferiu, é nelas que temos que colocar os “nosso olhos” é por elas que temos de ser melhores.

Como não nos sentirmos empáticos e profundamente solidários com um ser humano como Nick. Ele dá-nos muito e nós a ele. Demos-lhe uma razão para continuar e estamos-lhe muito gratos por ele continuar.

No primeiro concerto em nome próprio de Nick Cave and the Bad Seeds, em Portugal, num espaço que é conhecido por não ser “muito caloroso”, viveu-se ontem neste pavilhão enorme um forte sentimento de união e complacência, transformando-se num ambiente intimista, onde somos Nick Cave e a sua imensidão artística.

Nick que completou 67 anos no passado mês de Setembro (dia 22), presenteou-nos com quase 3 horas de concerto, sem paragens, sem falta de energia, repletas de sorrisos, lágrimas, abraços e palavras calorosas.

Nick Cave terminou o concerto com “Into My Arms”, lembrando  que o passado não se pode esquecer, mas podemos viver o presente em harmonia.

Disse ao despedir-se do público, que voltava. E nós cá o aguardamos, como sempre